Visitando Pedro Tierra
Osmar Casagrande
Foi no último domingo, 13 de
março. O cenário tranquilo do Parque Cesamar abrigando a paz, a tranquilidade,
enquanto a chuva caía formando um fino véu de noiva para a paisagem. O parque
vazio das gentes, por conta da chuva, fazia também vazio o espaço do projeto
Letras em Ação onde eu estava. Tudo em perfeita paz. Aí, bem, sem ter com quem
trocar ideias, opiniões, visões sobre literatura e literatos, fui ao quadrado
das letras, onde há obras dos mais diversos poetas e que a Poetas & tal
Creperia deixa à disposição de todos.
Percorri as capas e fui, via
pensamento, cumprimentando aqueles caros caras, famigerados poetas: Ronaldo
Werneck, Fernando Pessoa, Gilson Cavalcante, Fidêncio Bogo, Gilberto Mendonça
Teles... e fui, meio que enluado com tantas estrelas das letras, buscando aqui
e ali um motivo. Aí dei de cara com o motivo:
O Porto Submerso, de Pedro
Tierra.
Convidei Pedro Tierra para minha
mesa e, sorvendo um café caipira (é passado na hora, debaixo do nariz da gente,
o que já proporciona uma viagem olfativa às raízes da degustação), abri O Porto Submerso onde mergulhei fundo,
fundo.
Na paisagem que descortino sob a
lâmina d’água da memória, um tanto turva pelo decorrer do tempo, vejo, com
inacreditável nitidez, a saudade de Hamilton disfarçada em reminiscência de
Pedro Tierra. Inenarrável a sensibilidade do poeta a tecer arabescos de musgo
nas telhas imemoriais e rendas de infinita beleza nas espumas tecidas pela
rendeira Maria Joana, que no bilro constrói vazios no picar dos espinhos.
Naquela paisagem submersa divisei
os secos e molhados de um armazém de antanho e as expressões do mesmo porte de
tempo: “aguardente Alemã, pirla contra estupor, querosene Jacaré” e outros
tesouros de expressão... Descobri com Pedro Tierra que o sol gotera luz pelas
frinchas dos antigos telhados do Porto, luz que se transfigura em moedas de
ouro. Coisas de quem poeta.
Nadei de braçada naquela Porto
Submersa, enfrentando a água do tempo e as águas do rio que, encarceradas,
dilataram suas forças por sobre as raízes do Porto e as vão minando.
Definitivamente, ontem, na noite de um domingo de levante contra a corrupção,
mergulhei na limpidez poética, na poesia de Pedro Tierra.
A quem queira fazer semelhante
mergulho, recomendo que compre o livro: O Porto Submerso, do poeta Pedro
Tierra, editado em 2005. Se não possa adquirir o livro, vá ao Parque Cesamar,
em Palmas-TO, busque a Casa da Cultura que ali existe e poderá, na creperia
Poetas & tal, afogar-se nessas águas da memória, acompanhado de um café
caipira e algum sabor dos crepes que lá se servem.
No mais, há ali tantos portos e
tantos poetas a visitar, que podemos fazer intermináveis viagens na poética e
na prosa com quem ali vai.